— Por que essa água é quente, papai? — perguntou a menina na canoa.
— Porque é uma lágrima, querida.
— Lágrima de quem?
— De alguém que gosta muito de você — respondeu o pai, secando os olhos com o braço.
— Estou com sede. Posso tomar dessa água? — perguntou a menina, uma mão já mergulhada na água quente que rodeava a embarcação.
— Essa água é salgada, meu bem. Não dá pra beber, ou você vai ficar que nem eu.
— Velho? — arriscou a menina, esboçando um sorriso.
— Velho feio — respondeu o pai, rindo junto da filha.
Mas ele não conseguiu acompanhar a gargalhada cheia de energia da filha. Era difícil rir com a garganta seca e o corpo desidratado. Por dias navegaram aquele mar salgado, as estrelas como sua única companhia. Dia após dia, a chuva se recusou a cair e os cantis já tinham esvaziado. A névoa viera de brinde no dia anterior. O ar estava abafado. Sufocante.
Continuar lendo “Conto | O Mar de Lágrima” →